METAS E CONQUISTAS
Para dar ânimo e sentido à vida, há quem considere imprescindível ter-se um objetivo, uma meta a
alcançar. Desde as relativamente simples, que
terminam quando alcançadas, como a compra de um carro ou estudar para
aprovação no exame, até as grandes metas, que se transformam em ideais e
perduram por muito tempo ou pela vida toda. Quem sonha em ser um grande médico,
ainda que consiga, terá de manter a chama acesa pelo resto da vida,
aperfeiçoando-se sempre.
A maioria dos anseios pessoais objetivam a conquista de bens
materiais ou de status social. São resultantes da educação adotada nas sociedades, que
estimula as crianças a “vencerem na vida”, competindo umas com as outras.
Tornar-se um “vencedor”, provavelmente seja o mais forte condicionante das
mentes infantis, processo esse que faz parte do egoísmo humano. Crianças
formadas sob uma educação assim, quando adultas lutarão pela conquista de poder
e riqueza, e muitos não hesitarão em pisar nos “adversários” para alcançar o
objetivo.
Essa terrível competição é estimulada em todos os setores. Na
economia, no comércio e na indústria, empresas criam metas cada vez mais
competitivas e agressivas. Nações competem pela supremacia econômica,
ideológica e bélica, a ponto de se destruírem mutuamente. Esse processo acabou
tornando a humanidade infeliz, medrosa e violenta, e mesmo assim, todos
continuam perseguindo seus ideais de enriquecimento pessoal, competindo
agressivamente para alcançá-los.
É bem verdade que existem pessoas com objetivos bastante saudáveis,
tanto pessoais quanto empresariais. Muitos almejam realizações altruístas e
úteis à vida, em prol da coletividade. Algumas empresas projetam metas de
crescimento baseadas na melhora da qualidade de seus produtos, colaborando
assim para o progresso industrial. Somente quando esse crescimento é baseado no
estímulo ao consumismo, convencendo emocionalmente as pessoas, através da
publicidade, a comprarem o que não precisam e até o que lhes é nocivo, torna-se
evidente a manifestação maléfica do egoísmo humano.
As metas empresariais são quase sempre projeções das individuais,
de seus empresários dirigentes. São, portanto, consequência da formação
cultural e da evolução espiritual de cada um. Quem já superou, pelo menos em
parte, o egoísmo, não se deixa mais levar pela tendência global da competição
desenfreada. Tanto em seus anseios individuais quanto de suas empresas.
Um grande problema para quem coloca uma meta a ser alcançada é o
tempo. A ansiedade cobra dedicação e perseverança ininterruptas, mas ainda
assim acontecem imprevistos no percurso e quase nada sai exatamente como o
esperado. Finalmente, quando não se tem êxito, decepções e desilusões levam à
frustração e estresse, principais danos emocionais provocados pela ansiedade.
Durante o tempo em que se anseia por uma conquista, costuma-se
pensar nisso a maior parte do dia e por vezes da noite. Alguns chegam a se
esquecer de compromissos importantes e negligenciar inteiramente as pequenas
tarefas cotidianas, fundamentais na vida de qualquer pessoa. Há quem fique tão
obcecado por correr atrás do que pretende, que não consegue mais dar atenção
aos familiares e amigos. A solidariedade e a ética tornam-se menos importantes
do que o objetivo a alcançar. Uma conduta que causa inúmeros transtornos.
Busquemos então conscientizar esse mal.
Quando se tem uma meta a alcançar, é preciso evitar de tornar-se
seu escravo. Poderá guardá-la “num canto da mente”, como diz o verso de Djavan,
deixando que a inteligência inconsciente cuide do resto, e todos os passos,
então, serão convergidos na sua direção. Em nada adiantará a ansiedade, pois
não há tempo marcado, nem um caminho previamente traçado em diração à cobiçada
conquista. O caminho irá se moldando às contingências da vida.
Assim, sem as constantes e prejudiciais cobranças da ansiedade, é
possível concentrar-se nos compromissos do dia a dia e atividades rotineiras,
buscando fazer com perfeição cada detalhe. Até mesmo as tarefas mais banais,
como lavar um copo, será motivo de concentração total, fazendo isso com prazer
e da melhor maneira possível. Como também caminhar pelas ruas, simplesmente
reparando nos movimentos dos veículos e pessoas, nos formatos das árvores ou
nos contornos das montanhas, admirando a beleza do Sol refletido nas vidraças,
enfim, em tudo o que acontece à volta. Procedendo assim, não haverá espaço para
ansiedade ou qualquer pensamento negativo.
Esse agradável e sadio passa-tempo leva também à constatação de
que não é possível atuar no passado ou no futuro, pois a única oportunidade de
movimentar a vida está no momento presente. É num momento que alguém puxa o
braço e salva outra pessoa. É num momento que se desequilibra e cai. É também
num momento que uma ideia traz a solução de algum problema.
Quando se está livre de qualquer ansiedade, sobra tempo para
apreciar o que se passa no presente, certo de que a correnteza dos
acontecimentos, durante esse tempo, está “empurrando” a vida na direção do
objetivo sonhado. Essa certeza traz uma agradável sensação de bem-estar. É a
chamada paz de Deus, para os religiosos. É a mente tranquila, para os iogas.
Entregar o que se almeja conquistar ao inconsciente, portanto,
significa o mesmo que entregar a Deus. Ou, para os que consideram que tudo é
energia em movimento, significa entregar à Natureza.
Espiritualistas recomendam atenção à Lei do Retorno, que atua na
energia mental como uma extensão da terceira lei de Newton: “a toda ação
corresponde uma ação contrária, de igual intensidade”, também chamada de Lei de
Ação e Reação.
Segundo a Lei do Retorno, “cada vibração de energia mental emitida
determina uma consequente reação vibratória contrária e de igual intensidade.”
Esta lei é fundamentada na dualidade matéria-energia, demonstrada pela Física
Quântica. Ora, se em última análise as metas são formadas de desejos, e
portanto movimentos de energia mental, certamente estão regidas pela Lei do
Retorno (por muitos chamada de Lei do Karma).
Assim, tudo o que se almeja, requer o prévio cuidado de examinar
se terá consequências positivas ou não. Em outras palavras, se atende a
vibrações mentais do egoísmo pessoal ou a vibrações mentais de um desejo
altruísta. Quando a meta proposta, presumidamente, for prejudicial a alguém, a
um povo, aos animais ou à ecologia, ainda que prometa um grande lucro
financeiro, energeticamente terá consequências maléficas. O inverso também é
verdadeiro. Se a realização almejada auxiliar alguém, uma população ou a
ecologia, o retorno será uma energia de felicidade e paz interior,
independentemente do possível lucro material.
É bom realçar que tais cuidados, por serem também éticos e
humanistas, fazem sentido igualmente entre os agnósticos ou ateus, desde que se
importem com o bem-estar coletivo.
Concluindo, é certo que os objetivos simples e
imediatos são indispensáveis, necessários à sobrevivência. Mas só é compensador
ter-se uma grande meta – que realmente dá mais ânimo e sentido à vida – quando
ela também for útil à humanidade.
Mande sua opinião,
ela será muito bem-vinda.
ela será muito bem-vinda.
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sendino.claudio@gmail.com