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quinta-feira, 3 de maio de 2018

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Eduquem as crianças!


“Eduquem as crianças e 
não será necessário castigar os homens”
 Pitágoras

Quando se diz que o progresso de um país começa pela educação do seu povo, logo se pensa na criação de mais escolas e universidades. São engenheiros, médicos, artistas, cientistas e toda a população “inteligente” de uma nação, que a faz crescer, tanto culturalmente quanto tecnologicamente. Quanto mais alto o nível intelectual da população, mais o país se destaca no meio internacional.
Isso é bem previsível, mas vejamos em que consiste o progresso advindo do trabalho de profissionais gabaritados, formados em universidades. 
No milênio passado, a evolução científica e tecnológica foi fantástica. Haja vista a distância percorrida entre as primeiras e frustradas tentativas de voar, com trapizongas imitando asas, e as atuais naves espaciais. Entre os primórdios da ciência médica, observando a olho nu as entranhas de cadáveres, e o atual estudo da genética. Ou entre o descobrimento da pólvora e a bomba atômica, para citar uns poucos exemplos. 
O ser humano, aprofundando cada vez mais seus conhecimentos através de constantes e importantes descobertas, foi capaz de realizar coisas consideradas impossíveis. Um exemplo é o rádio, que funciona graças às ondas hertzianas, uma descoberta que na Idade Média seria certamente taxada de bruxaria e heresia. Ou a televisão e o computador, que não foram imaginados nem pelos grandes visionários de outrora.
É certo que as inúmeras e importantes descobertas dos antigos e modernos cientistas, promoveram um gigantesco avanço tecnológico no mundo, tornando as nações muito mais poderosas. Mas, no entanto, infelizmente não conseguiram fazer a humanidade mais feliz.
Alguns tentam contestar essa verdade, apontando o atual nível da qualidade de vida e as inúmeras possibilidades de conforto proporcionadas pelo progresso. Porém, se atentarmos, só uma pequena parcela da humanidade tem acesso a esse conforto. A maioria padece na luta frenética para consegui-lo, sofrimento que muitas vezes é bem maior do que a comodidade real que essas coisas podem proporcionar. Tal sofrimento é causado sobretudo pela inveja a quem possui esses bens, o que já provocou crimes bárbaros e inúmeros. 
Por outro lado, os que conseguem usufruir do conforto moderno, também não se satisfazem com o que possuem, necessitando correr atrás de bens mais caros, criando novas metas a serem alcançadas, e consequentemente, tornam-se também infelizes.
Apesar do exclusivo dom de raciocinar, do enorme desenvolvimento intelectual e do volume de conhecimentos adquiridos, o ser humano continua agindo tal qual agia na época primitiva: usa em benefício próprio todas as suas invenções, e vive lutando para satisfazer seus desejos de poder e de riqueza.
O egoísmo, herdado geneticamente pelo homo sapiens de seus antecessores, permanece até hoje intacto no caráter humano. Depois de muitos séculos de progresso científico, todo o conhecimento adquirido foi insuficiente para eliminar esse mal. Não conseguiu tornar os indivíduos mais felizes, mais solidários e altruístas.  
Uma das principais razões para essa absurda disparidade evolutiva, foi o domínio absoluto dos poderosos da antiguidade sobre as religiões, apossando-se de textos sagrados e os modificando conforme suas conveniências, impedindo assim que os verdadeiros conhecimentos espirituais fossem divulgados.
Tal involução reflete-se ainda hoje, a começar pela educação infantil.
Devido à ignorância espiritual humana, o egoísmo é estimulado desde a infância. A educação que recebem as crianças, tanto dos pais quanto nas escolas, em qualquer parte do mundo, é orientada somente para a competência. E pior, para a competência aliada à competição entre os colegas. Conselhos repetidos às crianças e jovens para “serem vencedores”, para se tornarem “um alguém na vida”, são assimilados por eles como permissividade para vencerem a qualquer custo o “adversário” –, em geral o seu companheiro.  
A educação religiosa, por outro lado, impõe uma série de dogmas e amplia a noção de família, para a de pátria, mas sem levar em conta a humanidade, como um todo. Em momento algum ensina-se às crianças que toda a humanidade é uma só raça, e que se deve agir no sentido de melhorar igualmente a vida de todos. 
O cérebro humano, com a inteligência super desenvolvida, mas com a espiritualidade estagnada, aprende a colocar ardilosamente o “eu” na frente de tudo. Logo encontra maneiras de usar os preceitos morais hipocritamente, como “fachada”, para obter vantagem. 
Assim, na vida adulta, as pessoas facilmente adotam discursos humanistas, alguns com eloquência suficiente para se tornarem políticos bem-sucedidos ou chefes religiosos devotados. Intitulam-se pacifistas, participam de campanhas pela paz, fazem até guerras pela paz! Mas não abrem mão de seus preconceitos e usam todas as armas de que dispõem para conseguir o que desejam.
Em consequência, vivemos numa sociedade de competição desenfreada, não importando em que regime político ou qual a religião adotada, muito menos a classe social à qual pertence. Do mais pobre ao mais rico, do analfabeto ao letrado, do religioso ou ateu, comunista ou capitalista, vivem para satisfazer caprichos pessoais, estimulados pela vaidade.
  Com essa maneira de ser, os dirigentes do mundo, absorvidos pela competição arrasadora entre as nações, adotaram a teoria de que a paz só será mantida pelo fortalecimento de seus arsenais de guerra, até que as forças das principais potências fiquem equilibradas. Apesar de essencialmente suicida, é uma teoria realista e coerente com o contexto atual, e com o nível mental da maioria da humanidade, que não conhece outra maneira de viver, a não ser a da competição. A teoria pode funcionar, até que um deles, mais insano, resolva liquidar os outros para conquistar o mundo, o que, aliás, já foi tentado mais de uma vez.
Todos competem por alcançar alguma vantagem: a ascensão pessoal dentro da empresa, quando empregado; se empresário, o domínio do mercado pela sua empresa; ou, se for político dirigente, o domínio do seu país. Nesse caminho, a ética é posta de lado ou usada de forma demagógica para disfarçar a ganância sem limite.
Assim agem os seres humanos em geral, não importa que sejam rotulados de fascistas, comunistas, progressistas ou conservadores.
Poucos, muito poucos, no entanto, são verdadeiramente humanistas. Esses compreendem que o grande mal da humanidade é o seu baixo desenvolvimento espiritual, e não o regime de governo nem a religião adotada. Já se livraram desses condicionamentos nocivos ensinados desde a infância. 
São eles os homens e mulheres de bem. Pode-se dizer que, de alguma forma, tiveram uma boa educação. Não competem mais com seu semelhante, pois não se satisfazem em levar vantagem à custa da infelicidade do outro. Mas nem por isso são complacentes ou submissos: são pessoas de bem, por terem alcançado um nível de consciência, que lhes impele a priorizar o próximo em suas ações, assim como respeitar os animais e a natureza. Já conhecem da vida o suficiente para deixarem de ser consumistas, de ostentar riqueza e de querer possuir mais que seu vizinho. São por isso levadas a lidar com todos, ricos ou pobres, com a mesma consideração. Sobretudo, são pessoas honestas, seja lá onde se encontrem e o que estejam fazendo.
Somente a educação será capaz de formar pessoas assim. Uma educação tal, que ajude a despertar nas crianças a consciência de que todos nós fazemos parte de uma enorme família, que se estende muito além das fronteiras de nossa casa e do nosso país: a enorme família humana. E que a nossa felicidade depende da felicidade de todos, estimulando assim a colaboração ao invés da competição.
Certamente uma educação dessa natureza ministrada às crianças, como disse Pitágoras, evitará que no futuro continuemos a ter de punir os adultos. 

sendino.claudio@gmail.com

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