A invencível guerra dos sexos
Muita gente afirma que as mulheres possuem o raciocínio mais
rápido do que o do homem, conseguindo tratar de vários assuntos ao mesmo tempo.
Baseiam-se em informações de pesquisas que constataram essa capacidade
feminina.
Há que se notar, primeiramente, a diferença entre as duas coisas. Raciocínio
rápido significa a capacidade do cérebro de elaborar rapidamente as respostas
aos estímulos, e isso depende da velocidade de processamento dos neurônios de
cada pessoa. Em algumas o raciocínio é rápido, em outras o cérebro age
lentamente. Isso faz parte das diferenças individuais, que felizmente existem,
tanto entre os homens quanto entre as mulheres.
A idade, e não o sexo, parece ser o que mais influi na velocidade
dos neurônios em processar os pensamentos. Assim como o resto do corpo, o
raciocínio vai ralentando com o passar do tempo. É bem sabido que os idosos
reagem mais lentamente a todo tipo de estímulo. No entanto, além da forte
interferência da idade, outros fatores nos dificultam apontar com exatidão a
diferença na velocidade de raciocínio entre mulheres e homens.
A época histórica também influi bastante
na velocidade do pensar. Antigamente o tempo corria mais lentamente, os
estímulos ao cérebro e a cobrança pelas respostas eram muito menores, atualmente
tudo anda mais rápido. A quantidade de informações que recebemos é cada vez
maior. O computador e os celulares estimulam constantemente o cérebro,
acelerando a velocidade do pensamento em toda a humanidade, principalmente nos
jovens. Provavelmente os jovens atuais pensem com muito mais rapidez do que os
de alguns anos atrás.
Já o processo de lidar com vários assuntos ao mesmo tempo, apesar
de ser também estimulado pela informática em geral, é outra capacidade do cérebro,
diferente da rapidez no pensar. Todo ser humano, com maior ou menor intensidade
possui essa capacidade, que igualmente independe de ser o indivíduo homem ou
mulher. Há mulheres e homens que lidam ao mesmo tempo com vários assuntos
diferentes, e há também quem prefira separar cada um, estabelecendo prioridade
para se concentrar num assunto por vez.
Na verdade, não se trata exatamente de uma capacidade, mas de um
hábito, determinado sobretudo pela ansiedade de cada pessoa. Conheci um
profissional que dirigia seu automóvel, ao mesmo tempo em que atendia o celular
e anotava o pedido de orçamento de seu cliente num caderninho, enquanto ouvia o
noticiário no rádio. Tudo isso, dizia ele, fazia automaticamente e sem
dificuldade.
Esse procedimento é proibido pelo Código Nacional de Trânsito,
porque sabe-se que a atenção dividida entre o controle do automóvel e outros
assuntos, aumenta a possibilidade de acidente. Já foi testado e comprovado, que
a quantidade de assuntos atentados ao mesmo tempo, tanto faz que seja por um
homem quanto por uma mulher, é inversamente proporcional à profundidade que o
cérebro trata cada um deles.
Isso é bem demonstrado por figuras. Imaginemos três sólidos sobre
uma prateleira: um cubo, um triângulo e uma folha de papel.
A pessoa 1 – habituada a lidar com vários assuntos ao mesmo tempo, percebe os três sólidos imediatamente, notando que o cubo é de madeira e tem uma bola pintada de vermelho, o triângulo é de metal com uma estrela azul pintada, e a folha de papel possui três faixas alaranjadas transversais. A pessoa percebe tudo isso imediatamente e ao mesmo tempo.
A pessoa 2 – que tem o hábito de se concentrar calmamente num
assunto e só depois passar a outro, examina primeiramente o cubo de madeira, e
percebe que é jacarandá, devido ao seu marrom escuro avermelhado; que a bola
vermelha é pintada somente em uma de suas faces, e que ela tem uma milimétrica
falha na tinta, perto da borda, por onde aparece a madeira sob a pintura; e
que, na parte posterior de cima do cubo, há uma pequena farpa da madeira,
perigosa de ferir a mão de quem o segurar.
Ao examinar logo após o triângulo de metal com a estrela azul,
percebe com estranheza que a borda esquerda do metal aparenta conter um pouco
de ferrugem, mas como sabe que metal não enferruja, conclui que se trata de uma
pequena sujeirinha.
Ao examinar, finalmente, a folha de papel com as três faixas
alaranjadas, percebe logo que a faixa do meio é ligeiramente mais estreita do
que as outras duas, e imagina que isso foi uma falta de capricho de quem as
pintou. Repara também que a folha foi destacada pelo seu lado de baixo, pois há
pequenos rasgos no papel.
Assim, a pessoa 2 demorou mais tempo para perceber os três
sólidos, mas o fez com muito mais riqueza de detalhes. As pessoas que não têm
ansiedade e tratam de um assunto por vez, demoram-se mais, no entanto conseguem
apreender mais profundamente o conteúdo de cada assunto.
A questão que precisa ser considerada, e que se torna grave na
medida em que afeta a harmonia entre os seres humanos, é o fato de muita gente
atribuir determinadas qualidades mentais às mulheres somente, ou somente aos
homens. Isso reaviva uma divisão entre homens e mulheres, que não é nada sadia.
À exceção das diferenças físicas, que positivamente são motivo de atração
mútua, a busca de diferenças psíquicas e mentais entre mulheres e homens, sobretudo
quando pretendem colocar um deles em superioridade ao outro, causam grande mal
a todos, pois estimula a competição. Só faz lucrar a mídia, aumentando
audiências nos programas de TV que exploram o assunto.
A polêmica entre quem é mais inteligente provoca uma reação nas pessoas
desavisadas, que se sentem diminuídas e saem a procura de argumentos que as
façam sentir-se em superioridade. E todas essas “superioridades” são bastante
questionáveis, pois na verdade mulheres e homens pertencem igualmente à raça
humana, cuja capacidade mental obviamente varia de indivíduo para indivíduo, independentemente
de qual sexo fazem parte.
O ser humano ainda não evoluiu a ponto de superar o egoísmo. Por
isso vive estimulando os confrontos, que se tornam motivos de competição. Competem
por suas diferenças, por suas etnias e por suas religiões. Competem pelo poder,
causando as guerras, a maioria dos crimes e desavenças, incluindo a violência
dos homens contra as mulheres.
sendino.claudio@gmail.com
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