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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

• ARTIGO • Você acredita em Deus?




Você acredita em Deus?

Quando me fazem esta pergunta, sinto-me impossibilitado de responder simplesmente – sim ou não –, sem antes refletir sobre o assunto.
Costuma-se dividir as pessoas em dois grupos: os materialistas, ateus, que não admitem sequer pronunciar a palavra Deus, e os religiosos, ou simpatizantes de alguma religião. O conceito de Deus é, inevitavelmente, ligado à religiosidade.
Há quem imagine Deus como um ser de longas barbas, que ditou os mandamentos a Moisés e a quem devemos amar acima de tudo. Que castiga os que não o obedecem, que perdoa os que se arrependem, e até distribui presentes aos que mais o agradam.
Há os que acham que a autoridade e as virtudes de Deus precisam ser sempre afirmadas, e vivem a anunciar aos quatro ventos que Deus é o Senhor de todos nós.
Há também quem veja Deus como um grande espírito, uma espécie de mestre de todos os mestres, dono de tal sabedoria, que foi capaz de criar o Universo e de quem nada conseguiremos ocultar. Por isso, precisa ser respeitado e venerado por toda a humanidade. 
Esses são conceitos que atribuem a Deus virtudes inerentes aos seres humanos, como bondade e cólera, sabedoria, fidelidade, necessidade de ser respeitado e de afirmar o seu poder. Provavelmente devido a essa imagem de Deus todo-poderoso e dominador, sempre a exigir obediência e complacência de todos, é que os ateus sentem tanta aversão às religiões.
No entanto, existem também os que consideram Deus o grande mistério, jamais desvendado inteiramente, da Natureza e suas leis eternas e imutáveis, que regem o Universo, num processo automático e contínuo, a cada instante, durante a eternidade.
Acreditar em Deus, nesse caso, é assumir uma postura humilde diante desse fantástico e constante movimento, desde o macrocosmo, do qual somos uma partícula infinitesimal, até o microcosmo, que forma todas as coisas, inclusive nós. É reconhecer, assim, a limitação do conhecimento humano.
Os que vêem Deus como a Natureza podem afirmar verdadeiramente que Deus está em toda parte, pois toda a matéria do Universo é formada de moléculas e átomos, ou seja, de energia condensada. A mesma energia que circula por nossos cérebros e mentes, dando a nós a sensação da personalidade, da individualidade. Portanto, somos parte de Deus, parte da Natureza, e nos movimentamos através das suas leis, que não dependem de nada, de vontade alguma, de nenhuma religião, nenhuma oração, promessa ou magia, para que se cumpram.
O conhecimento das leis de Deus ou das leis naturais é cobiçado, desde o momento em que o primeiro ser humano olhou para o céu e percebeu as estrelas. É perseguido, tanto pela Ciência quanto pela Religião, ambos pressupondo, cada um a seu modo, um profundo conhecimento dessas leis.
Porém, se atentarmos bem veremos que, em toda a existência humana, o tanto que aprendemos é ainda muito pouco.
Há cerca de 300 anos, Newton enunciou leis que pareciam dar ao ser humano um enorme domínio da Natureza. No entanto, a Ciência já provou que não estavam absolutamente corretas, assim como Einstein mostrou que a distância entre dois pontos nem sempre é – como parece óbvio – a linha reta. Postulados tidos como intocáveis, de tempos em tempos são superados.
Isso mostra que o ser humano somente consegue dominar fragmentos das leis da Natureza, nunca as conhece inteiramente, ainda que, com esse pequeno conhecimento, possa realizar as maravilhas tecnológicas atuais. E o conhecimento vai-se desenvolvendo em progressão geométrica, haja vista a evolução do celular, que há poucos anos era um simples telefone e hoje é um complexo multiuso. Quem sabe, daqui a 500 anos, tudo isso será tão rudimentar, como agora são as trapizongas produzidas na Idade Média?
Se tentássemos, na Idade Média, descrever o telefone celular, provavelmente seríamos taxados de bruxos. O que torna perfeitamente aceitável supor que, no futuro, a Ciência chegará a manipular fenômenos que atualmente não consegue explicar, como os da paranormalidade e mediunidade; ou os milagres, para algumas religiões.
Assim, provavelmente esses fenômenos, que já foram tidos como “bruxarias” no passado, mais cedo ou mais tarde estarão nas páginas dos livros científicos. Basta que sejam superados alguns postulados, atualmente em vigor, o que se dará naturalmente a partir de descobertas de novas facetas das leis da Natureza.
A busca incansável do ser humano pelo domínio da Natureza, inclui também a tentativa de explicar a formação do Universo. Novamente, Ciência e Religião seguem caminhos praticamente opostos.
Como tudo começou? As explicações religiosas são quase todas baseadas nos antigos mitos nascidos na Pré-História e na Idade Antiga. Pouco foram alterados. No mundo científico, a teoria mais aceita, a do Big Bang, diz em síntese que o Universo se formou a partir de uma explosão. Porém, sabemos que todo efeito possui a sua causa. Uma simples gota d’água, ao cair, produz um efeito, que passará a ser causa de outro efeito, e assim por diante. Retrocedendo-se até ao que se diz ter sido o início do Universo, pergunta-se: qual teria sido a causa da explosão do Big Bang? Se o nada é incapaz de explodir, o que teria explodido? Deveria haver um ponto inicial de matéria, ao menos um único átomo, para que pudesse acontecer a explosão.
Volta-se então, à questão inicial: como se originou esse primeiro átomo, a que alguns espiritualistas chamam de átomo primordial? De onde teria surgido? Logicamente, ele obedecia às leis da Natureza, mas em que momento essas leis teriam se formado?
  A essas perguntas simples e diretas, apesar das várias teorias a respeito, todo o conhecimento humano ainda não conseguiu esclarecer definitivamente.  
Por isso, devolvo a pergunta: – Você acredita em Deus?

sendino.claudio@gmail.com


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