Você acredita em Deus?
Quando me fazem esta pergunta, sinto-me
impossibilitado de responder simplesmente – sim ou não –, sem antes refletir sobre o assunto.
Costuma-se dividir as pessoas em dois grupos: os
materialistas, ateus, que não admitem sequer pronunciar a palavra Deus, e os
religiosos, ou simpatizantes de alguma religião. O conceito de Deus é,
inevitavelmente, ligado à religiosidade.
Há quem imagine Deus como um ser de longas barbas, que
ditou os mandamentos a Moisés e a quem devemos amar acima de tudo. Que castiga
os que não o obedecem, que perdoa os que se arrependem, e até distribui
presentes aos que mais o agradam.
Há os que acham que a autoridade e as virtudes de Deus
precisam ser sempre afirmadas, e vivem a anunciar aos quatro ventos que Deus é
o Senhor de todos nós.
Há também quem veja Deus como um grande espírito, uma
espécie de mestre de todos os mestres, dono de tal sabedoria, que foi capaz de
criar o Universo e de quem nada conseguiremos ocultar. Por isso, precisa ser
respeitado e venerado por toda a humanidade.
Esses são conceitos que atribuem a Deus virtudes
inerentes aos seres humanos, como bondade e cólera, sabedoria, fidelidade,
necessidade de ser respeitado e de afirmar o seu poder. Provavelmente devido a
essa imagem de Deus todo-poderoso e dominador, sempre a exigir obediência e
complacência de todos, é que os ateus sentem tanta aversão às religiões.
No entanto, existem também os que consideram Deus o
grande mistério, jamais desvendado inteiramente, da Natureza e suas leis
eternas e imutáveis, que regem o Universo, num processo automático e contínuo,
a cada instante, durante a eternidade.
Acreditar em Deus, nesse caso, é assumir uma postura
humilde diante desse fantástico e constante movimento, desde o macrocosmo, do
qual somos uma partícula infinitesimal, até o microcosmo, que forma todas as
coisas, inclusive nós. É reconhecer, assim, a limitação do conhecimento humano.
Os que vêem Deus como a Natureza podem afirmar
verdadeiramente que Deus está em toda parte, pois toda a matéria do Universo é
formada de moléculas e átomos, ou seja, de energia condensada. A mesma energia
que circula por nossos cérebros e mentes, dando a nós a sensação da
personalidade, da individualidade. Portanto, somos parte de Deus, parte da Natureza,
e nos movimentamos através das suas leis, que não dependem de nada, de vontade
alguma, de nenhuma religião, nenhuma oração, promessa ou magia, para que se
cumpram.
O conhecimento das leis de Deus ou das leis naturais é
cobiçado, desde o momento em que o primeiro ser humano olhou para o céu e
percebeu as estrelas. É perseguido, tanto pela Ciência quanto pela Religião,
ambos pressupondo, cada um a seu modo, um profundo conhecimento dessas leis.
Porém, se atentarmos bem veremos que, em toda a
existência humana, o tanto que aprendemos é ainda muito pouco.
Há cerca de 300 anos, Newton enunciou leis que
pareciam dar ao ser humano um enorme domínio da Natureza. No entanto, a Ciência
já provou que não estavam absolutamente corretas, assim como Einstein mostrou
que a distância entre dois pontos nem sempre é – como parece óbvio – a linha
reta. Postulados tidos como intocáveis, de tempos em tempos são superados.
Isso mostra que o ser humano
somente consegue dominar fragmentos das leis da Natureza, nunca as conhece
inteiramente, ainda que, com esse pequeno conhecimento, possa realizar as
maravilhas tecnológicas atuais. E o conhecimento vai-se desenvolvendo em
progressão geométrica, haja vista a evolução do celular, que há poucos anos era
um simples telefone e hoje é um complexo multiuso. Quem sabe, daqui a 500 anos,
tudo isso será tão rudimentar, como agora são as trapizongas produzidas na
Idade Média?
Se tentássemos, na Idade Média,
descrever o telefone celular, provavelmente seríamos taxados de bruxos. O que
torna perfeitamente aceitável supor que, no futuro, a Ciência chegará a
manipular fenômenos que atualmente não consegue explicar, como os da
paranormalidade e mediunidade; ou os milagres, para algumas religiões.
Assim, provavelmente esses
fenômenos, que já foram tidos como “bruxarias” no passado, mais cedo ou mais
tarde estarão nas páginas dos livros científicos. Basta que sejam superados
alguns postulados, atualmente em vigor, o que se dará naturalmente a partir de
descobertas de novas facetas das leis da Natureza.
A busca incansável do ser humano pelo domínio da
Natureza, inclui também a tentativa de explicar a formação do Universo.
Novamente, Ciência e Religião seguem caminhos praticamente opostos.
Como tudo começou? As explicações
religiosas são quase todas baseadas nos antigos mitos nascidos na Pré-História
e na Idade Antiga. Pouco foram alterados. No mundo científico, a teoria mais
aceita, a do Big Bang, diz em síntese que o Universo se formou a partir de uma
explosão. Porém, sabemos que todo efeito possui a sua causa. Uma simples gota
d’água, ao cair, produz um efeito, que passará a ser causa de outro efeito, e
assim por diante. Retrocedendo-se até ao que se diz ter sido o início do
Universo, pergunta-se: qual teria sido a causa da explosão do Big Bang? Se o
nada é incapaz de explodir, o que teria explodido? Deveria haver um ponto
inicial de matéria, ao menos um único átomo, para que pudesse acontecer a
explosão.
Volta-se então, à questão inicial: como se originou
esse primeiro átomo, a que alguns espiritualistas chamam de átomo primordial?
De onde teria surgido? Logicamente, ele obedecia às leis da Natureza, mas em
que momento essas leis teriam se formado?
A essas
perguntas simples e diretas, apesar das várias teorias a respeito, todo o
conhecimento humano ainda não conseguiu esclarecer definitivamente.
Por isso, devolvo a pergunta: – Você acredita em Deus?
sendino.claudio@gmail.com
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