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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

• TEXTO ECOLÓGICO • Zoom




Zoom

     Não sei há quanto tempo estou aqui, ao pé dessa árvore, admirando a sua ramagem, assistindo ao espetáculo do sol penetrando entre as milhares de folhas, formando minúsculos raios, tão belos quanto incógnitos às vistas das pessoas que passam, absortas em suas alegrias ou tristezas.
       As árvores se estendem, num desenho irregular, por planícies e montanhas, até o mar, até o horizonte. Mas esse é apenas o limite da minha visão. Na verdade, as árvores e o mar vão muito além, passam da divisa do estado, alcançam a fronteira do país e dali prosseguem até outros continentes, ignorando completamente as demarcações estabelecidas pelas leis humanas. O mar segue ainda mais, desconhecendo os traçados ilusórios de países e continentes, banhando outras praias, outras montanhas, outras árvores, que também ultrapassam inúmeros limites humanos, dando uma volta completa no planeta, para, finalmente, se encontrar com a árvore à minha frente.
       Enquanto eu a contemplo vão passando por mim muitas pessoas, entretidas com seus pensamentos e sentimentos, lembrando fatos passados ou fazendo planos para o futuro, sem se darem conta de que caminham livres, numa imensa esfera, cheia de árvores, terras e montanhas, que mudam de forma continuamente e se adaptam com harmonia ao solo e ao clima de cada região. Ao contrário de nós, seres humanos, que falamos línguas diferentes e nos matamos mutuamente, motivados pela ganância de nos apossarmos de um determinado espaço no solo ou de algum tipo de mineral ao qual chamamos de riqueza.
       Acima de mim e da árvore à minha frente, avisto o céu com suas nuvens, e bem acima delas, um espaço sem fim, onde à noite, incontáveis esferas cintilantes me parecem imóveis, mas na realidade percorrem à grande velocidade um caminho curvo em volta de outras muito maiores. Uma delas é a que chamamos de Sol, em torno da qual gira a pequena esfera onde eu e o restante da humanidade habitamos.
       O Sol, juntamente com milhares de bolinhas como essas, formam uma maravilhosa esteira que tem o nome de galáxia.
       A galáxia é uma molécula. O Sol, um átomo. A bolinha que habitamos é apenas um próton ou elétron desse átomo. E as leis, as propriedades, a riqueza, a vaidade, a ostentação e as divisões humanas, não são nada.


sendino.claudio@gmail.com

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