O Universo interno
Muito se ouve dizer que o ser humano é uma centelha divina. De
fato, somos todos minúsculas partes do Universo, ou partes de Deus, pois nossas
mentes são fragmentos da energia universal. Assim sendo, ao conseguirmos deixar
a mente atuar livre e tranquilamente, ela perceberá em si mesma os movimentos
do Universo interno. Ele nos ensina a navegar pelos mares da vida, dando respostas
à profundas indagações existenciais. As conclusões trazidas ao consciente serão
lições capazes de nos orientar em qualquer situação.
Não se trata, é claro, de um Universo com estrelas, planetas e
galáxias. Mas de uma observação direta da atuação das leis de Deus, ou seja,
das leis universais que regem as coisas e os seres. Como o conhecido ensinamento
do Mestre Jesus: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”, que revela uma
lei da Física mais tarde enunciada por Newton: “Quando um corpo exerce uma
força sobre outro, este reage ao primeiro com uma força de mesma intensidade,
mas de sentido contrário.” A religião une-se à Ciência, ao percebemos que esta
lei não é exercida somente sobre os corpos físicos, mas também sobre os
pensamentos, emoções e intenções. É esse o Universo que se vê atuar
internamente.
Os seres humanos, de certa forma são bem semelhantes: os corpos,
formados pelos mesmos órgãos e comandados pelo cérebro; todos são sensíveis às
dores e aos prazeres, e por isso o cérebro tenta se afastar das dores, buscando
prazeres de todo tipo.
Ao mesmo tempo, os humanos são também muito diferentes: nas
vocações, na índole, no caráter, e ainda nos seus corpos, que possuem
diferenças de etnia, de altura, volume e muitas outras.
Essas diferenças, juntamente com as experiências obtidas através dos
sofrimentos e prazeres vividos, formam a personalidade de cada um. É ela que
comanda o indivíduo, durante o tempo que ele permitir. A personalidade também
cria e alimenta os preconceitos e estabelece as grandes diferenças e
antagonismos entre os seres humanos. Por conta dessas divergências múltiplas
entre as personalidades humanas, surgem os conflitos sociais e as guerras.
A personalidade não consegue perceber os movimentos do Universo
interno, porque toda sua atenção é voltada para si mesma. Ela pode dominar a
mente, e quando isso acontece a pessoa torna-se totalmente egoísta. Há
filósofos que defendem essa maneira de ser, achando que a personalidade é tudo,
que deve-se cultivar a sua total liberdade.
A personalidade egocêntrica dominante serve-se de todos os
conhecimentos intelectuais adquiridos para justificar seus atos, mesmo os
insanos, que vão desde a devoção total aos prazeres do corpo, até o fanatismo,
político ou religioso.
Quando a personalidade incorpora fanaticamente uma tendência
política, leva o indivíduo a cometer grandes atrocidades, completamente
impermeável ao sofrimento de quem defende a linha contrária. Quando o fanatismo
é religioso, torna-o capaz de atos não menos deploráveis, desde açoitar o
próprio corpo, sacrificar a própria vida, até assassinar multidões em nome de
Deus, acreditando egoistamente que será recompensado com o paraíso eterno.
A personalidade costuma dominar a mente, mas também pode ser
dominada por ela. À medida em que a mente consegue se livrar do domínio da
personalidade, o indivíduo vai-se tornando mais compreensivo e fraterno com
seus semelhantes. No momento em que a mente se vê inteiramente livre da
personalidade, vislumbra nitidamente seu Universo interno. Pode então comprovar
a veracidade de certos ensinamentos de Mestres religiosos, estabelecendo
comparações com leis científicas.
Mente e personalidade são
independentes. Na verdade, quase opostas. Ao contrário da personalidade, que só
pensa em si, a mente é capaz de perceber claramente que todos nós, seres
humanos, estamos interligados. Ao pensarmos firmemente em outra pessoa, seja
qual for a distância física entre nós, é possível que se estabeleça com essa
pessoa uma relação energética de ida e volta, instantaneamente. Se a outra
pessoa estiver com a mente tranquila, receptiva, receberá o nosso pensamento,
geralmente como uma sensação – boa ou má. Essa recepção poderá ser processada e
devolvida, numa troca energética que perdura até que um de nós distraia a mente
com outro assunto.
É igualmente importante lembrar que a prática do bem, mesmo em
situações banais, produz em quem o praticou, uma sensação de felicidade
proporcional ao bem praticado. Qualquer pessoa é capaz de perceber, por
exemplo, ao dirigir no trânsito, que uma simples gentileza ao motorista do
outro veículo e o leve buzinar do outro, agradecendo, lhe traz uma sensação
prazerosa. Ou então, ao indicar o caminho a uma pessoa que está perdida, o seu
sorriso de agradecimento lhe causa também a mesma sensação feliz.
A essas pequenas “ondas” de felicidade, tão banais que geralmente
passam despercebidas, só a mente livre e atenta sabe dar a importância devida. São
bons exemplos do Universo interno transmitindo sutilmente um útil aprendizado:
fazer ou desejar bem ou mal a outro, mesmo que num gesto simples, é o mesmo que
fazer a si próprio.
Isso nos leva a outro fenômeno importante: a energia (tanto
positiva quanto negativa) gerada pelo pensamento ou desejo, contamina também o
corpo de quem a produz, causando males ou benefícios às células, e por
consequência, a todo o organismo. Tal fenômeno já é aceito pela Medicina
moderna, sendo considerado principalmente no acompanhamento de gestantes.
Todos os humanos são capazes de perceber em si próprios, através
de suas mentes, o movimento interno do Universo, mas Infelizmente apenas a
minoria se dispõe a enxergar além de sua personalidade egocêntrica, entretida
unicamente na busca de prazeres e de afirmação pessoal.
Anular de forma total e definitiva a personalidade, até que é
possível, mas em toda a história humana foram raríssimas as pessoas que
conseguiram essa façanha. Tais pessoas são chamadas de Mestres, que ficaram
conhecidos por terem-se dedicado de corpo e alma ao bem da humanidade.
Em nosso caminho evolutivo espiritual, ou seja, na ascensão ao domínio
da mente sobre a personalidade, cada um de nós está num degrau de uma escada
infinita. É comum atravessamos fases, nas quais temos vislumbres do nosso
Universo interno, intercaladas de períodos confusos de escuridão, quando a
personalidade volta a exercer seu domínio egoísta.
Os atos praticados durante uma fase e outra, como é de se esperar,
repercutem mais tarde no desenrolar da vida, causando prejuízos ou benefícios.
A predominância de pensamentos positivos ou negativos na mente e as
consequentes ações que praticamos, determinam o grau de felicidade ou de
infelicidade em nossas vidas. Vão construindo e modificando constantemente o
nosso destino: o que vivemos no presente é sempre consequência de nossas ações
e pensamentos do passado.
sendino.claudio@gmail.com