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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

1. ARTIGO • Os justos e os tiranos



Os justos e os tiranos


O que me assusta não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons.
Martin Luther King


Cada ser humano é único. Por isso, eles só podem ser classificados considerando-se um determinado aspecto de sua individualidade, como a etnia ou a nacionalidade, a formação cultural, a faixa etária, a sexualidade etc. 
Estão aqui divididos em dois grandes grupos, considerando o altruísmo e a honestidade – qualidades que se complementam e que, em nossa opinião, são as mais importantes da alma humana. Os grupos foram nomeados simploriamente de justos e tiranos.

Os justos
São as pessoas de bem, o que não significa que sejam “boazinhas”, isso é, complacentes ou submissas. São de bem por possuírem um alto nível de consciência, que lhes impele a priorizar o bem ao próximo, em qualquer ação, demonstrando respeito também aos animais e à natureza. Os justos já deixaram de ser consumistas, de querer ostentar riqueza e possuir mais que seu vizinho, tratando a todos, sejam ricos ou pobres, com a mesma consideração.
São pessoas incapazes de roubar ou matar, de guardar rancor e de tramar vingança. Mas é normal que reajam no momento de uma agressão ou se mostrem indignadas com a atitude de alguns, pois somente os iluminados, os santos, conseguem manter a mente acima e isenta de qualquer irritação.
Os justos, sobretudo, são pessoas honestas, seja lá onde se encontrem e o que estejam fazendo. Tais pessoas estão espalhadas por todos os países, em todas as atividades e em todas as classes sociais. Felizmente, elas existem.
Quando empresários, não querem enriquecer a qualquer custo, pois remuneram bem seus empregados e costumam lhes oferecer uma infraestrutura de vida bem maior do que a exigida por lei. Não é raro dividirem com eles parte do lucro de suas empresas, em dividendos anuais, como forma de incentivá-los. E muitos mantêm projetos sociais e filantrópicos em benefício da coletividade.
 Colocam-se sempre a favor de qualquer iniciativa social, governamental ou não, desde que preste verdadeiros benefícios à população. E condenam abertamente os projetos demagógicos e ineficazes, não importando a sua origem. Não costumam participar dos alegres e festivos eventos pela paz, mas são essencialmente pacifistas em suas atitudes.
Em geral essas pessoas de bem não entram na política, pois não têm vocação para a competição com seu semelhante nem ganância de poder. Apesar disso existem os que seguem o caminho político, carregando o objetivo altruísta de realizar obras humanitárias e trabalhar para o bem da população. Esses são raríssimos, pois o progresso nessa trilha depende da convivência constante com os tiranos e sua ladina “troca de favores”, que leva facilmente aos conchavos e à corrupção.
Ainda assim há os que conseguem ultrapassar essas barreiras e manter-se íntegros. É necessário que façam parte de algum Partido político, mas jamais subjugam seus ideais de justiça às orientações do Partido, mantendo suas ações sempre embasadas pela cidadania e visando o bem-estar do povo. Somente apoiam iniciativas sociais verdadeiras e benéficas, não as eleitoreiras, feitas para criar dependência. Apoiam, por exemplo, projetos educacionais para a verdadeira melhoria do Ensino, e não com a intenção de estimular a preferência partidária ou a sexualidade infantil.
Enfim, são políticos que agem honestamente, como todos deveriam fazer, e por isso mesmo seus projetos, de real benefício à nação, costumam ser derrubados pelos tiranos, que só aprovam o que lhes favorece.
Há no entanto um outro grupo de pessoas, inicialmente bem-intencionadas, mas que terminam sendo levadas a rotular seus ideais humanistas com a sigla de um Partido político, e assim confundi-los com as normas e diretrizes do Partido.
Esse equívoco costuma ser irreversível, porque, pouco a pouco, os ideais vão sendo substituídos pela veneração ao Partido adotado. Como religiosos fiéis, votam incondicionalmente nos candidatos do Partido, considerando a priori que eles sejam “os melhores”. Dedicam-se então, de corpo e alma, à divulgação desses candidatos, certos de que bastará elegê-los e o Partido conquistar o poder, para que os seus ideais de justiça social sejam realizados.
No decorrer da disputa política, envolvem-se emocionalmente a tal ponto, que acabam achando normal que o fim (a vitória do Partido) justifique os meios usados para colocá-lo no poder (mentiras, desvio de verbas para a campanha etc.). Tudo será permitido e desculpável, desde que empurre o Partido para a vitória nas urnas, pois ele carrega no bojo todos os seus sonhos humanitários.
Em casos de fanatismo extremo, pessoas que antes eram de bem, engajam-se na luta armada. É quando a guerrilha se torna a única maneira de levar o Partido ao poder, não importando se à custa de muito sangue, pois a essa altura, já se encontram plenamente convencidos de que “o fim justifica os meios”. Terminam assim praticando tudo o que antes condenavam nos seus velhos ideais humanitários e de amor aos semelhantes.

Os tiranos
Esse tipo de gente, mesmo que seja a minoria, infelizmente é quem domina o mundo, pois luta por todos os meios pelo enriquecimento e pela conquista de poder. Desprovidos de um mínimo de altruísmo, tais indivíduos vivem com as mentes dominadas pelo egoísmo. Só pensam em si mesmos, são muito ladinos e consideram que os justos, altruístas e humanistas, sejam uns “ingênuos”, que perderam o foco do que seja a realidade da vida. Fazem questão de se mostrar “superiores”, de ostentar riqueza, e por isso são essencialmente consumistas.
Empresários gananciosos, exploram como podem seus empregados, dando-lhes, quando muito, o estritamente obrigatório por lei. Não vacilam em se corromper, lucrando fortunas com subornos e outros negócios escusos.
Mas a grande concentração dos tiranos está na política. O motivo é óbvio: é lá que encontram o “manjar” para sua fome de poder e de riqueza, pois os políticos bem-sucedidos exercem grande poder sobre toda a população. Sempre muito inteligentes, com brilhantes discursos demagógicos, às vezes chegam a conquistar a simpatia dos justos, os verdadeiros idealistas, e os usam como trampolim para galgar mais poder. Acabam se tornando grandes líderes partidários, ministros e até presidentes.
Fazem negociatas com empresas igualmente corrompíveis, desviam dinheiro público para suas contas em bancos estrangeiros, enriquecem filhos e parentes próximos. Quando flagrados, contratam a peso de ouro competentes e tiranos advogados, espertíssimos em encontrar pequenas brechas na lei para inocentá-los.
Tentam transformar seus crimes em “luta política”, e por incrível que pareça, conseguem que seus seguidores – esses realmente ingênuos –, se recusem a ver os fatos, ainda que comprovados, e continuem a considerá-los grandes líderes, acreditando até o fim nos seus discursos mentirosos.

Conclusão
Em todos nós predomina um dos dois lados. Para detectar qual, é preciso olhar a nós mesmos com honestidade, o que é impossível a um tirano, pois seu egoísmo não admite tal honestidade.
Mas quem já superou o domínio do egoísmo, não vê mais o mundo girar em volta de si mesmo. Embora cometa erros, como todos os mortais, admite o erro cometido e logo empenha-se em repará-lo. Age priorizando o bem-estar do próximo, e demonstra sempre solidariedade e gratidão.
Os justos jamais trocam seus ideais altruístas pelas diretrizes de algum Partido político. Assim, conseguem enxergar os fatos com isenção, conscientes da presença dos tiranos, sempre muito cativantes, mas desonestos e corruptos, que dominam a política do país, com o único objetivo de levar vantagem e conquistar mais poder.
  Felizmente, os tiranos encontram nos justos uma inabalável resistência.

sendino.claudio@gmail.com



3 comentários:

Domingos C Branco disse...

Amigo Sendino
Tenho esperanças de que, no caso do Brasil, os justos se imponham aos tiranos. O Brasil é um país abençoado e podemos criar uma grande civilização, livre das tantas desgraças que estão distantes. Vale a pena acreditar...
Domingos

Geraldo Chacon disse...

Lógica irretocável, texto que deveria ser lido por todos.

zilda maria sousa da cunha. disse...

Impressiona a clareza e simplicidade dos argumentos. compartilharei para que outros tenham oportunidade de analisarem-se, ou quem sabe modificarem-se. É muito bom está ao lado dos mocinhos.