Os justos e os tiranos
O que me assusta não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons.
Martin Luther King
Cada ser humano é único. Por isso, eles só podem ser classificados considerando-se um determinado aspecto de
sua individualidade, como a etnia ou a nacionalidade, a formação cultural, a
faixa etária, a sexualidade etc.
Estão aqui divididos em dois grandes grupos, considerando o
altruísmo e a honestidade – qualidades que se complementam e que, em nossa
opinião, são as mais importantes da alma humana. Os grupos foram nomeados
simploriamente de justos e tiranos.
Os justos
São as pessoas de bem, o que não significa que sejam “boazinhas”,
isso é, complacentes ou submissas. São de bem por possuírem um alto nível de
consciência, que lhes impele a priorizar o bem ao próximo, em qualquer ação,
demonstrando respeito também aos animais e à natureza. Os justos já deixaram de ser consumistas,
de querer ostentar riqueza e possuir mais que seu vizinho, tratando a todos,
sejam ricos ou pobres, com a mesma consideração.
São pessoas incapazes de roubar ou matar, de guardar rancor e de
tramar vingança. Mas é normal que reajam no momento de uma agressão ou se
mostrem indignadas com a atitude de alguns, pois somente os iluminados, os
santos, conseguem manter a mente acima e isenta de qualquer irritação.
Os justos, sobretudo, são pessoas honestas, seja lá onde se encontrem e o
que estejam fazendo. Tais pessoas estão espalhadas por todos os países, em
todas as atividades e em todas as classes sociais. Felizmente, elas existem.
Quando empresários, não querem enriquecer a qualquer custo, pois
remuneram bem seus empregados e costumam lhes oferecer uma infraestrutura de
vida bem maior do que a exigida por lei. Não é raro dividirem com eles parte do
lucro de suas empresas, em dividendos anuais, como forma de incentivá-los. E
muitos mantêm projetos sociais e filantrópicos em benefício da coletividade.
Colocam-se sempre a favor
de qualquer iniciativa social, governamental ou não, desde que preste
verdadeiros benefícios à população. E condenam abertamente os projetos
demagógicos e ineficazes, não importando a sua origem. Não costumam participar
dos alegres e festivos eventos pela paz, mas são essencialmente pacifistas em
suas atitudes.
Em geral essas pessoas de bem não entram na política, pois não têm
vocação para a competição com seu semelhante nem ganância de poder. Apesar
disso existem os que seguem o caminho político, carregando o objetivo altruísta
de realizar obras humanitárias e trabalhar para o bem da população. Esses são
raríssimos, pois o progresso nessa trilha depende da convivência constante com
os tiranos
e sua ladina “troca de favores”, que leva facilmente aos conchavos e à
corrupção.
Ainda assim há os que conseguem ultrapassar essas barreiras e
manter-se íntegros. É necessário que façam parte de algum Partido político, mas
jamais subjugam seus ideais de justiça às orientações do Partido, mantendo suas
ações sempre embasadas pela cidadania e visando o bem-estar do povo. Somente
apoiam iniciativas sociais verdadeiras e benéficas, não as eleitoreiras, feitas
para criar dependência. Apoiam, por exemplo, projetos educacionais para a
verdadeira melhoria do Ensino, e não com a intenção de estimular a preferência
partidária ou a sexualidade infantil.
Enfim, são políticos que agem honestamente, como todos deveriam
fazer, e por isso mesmo seus projetos, de real benefício à nação, costumam ser
derrubados pelos tiranos, que só aprovam o que lhes favorece.
Há no entanto um outro grupo de pessoas, inicialmente
bem-intencionadas, mas que terminam sendo levadas a rotular seus ideais
humanistas com a sigla de um Partido político, e assim confundi-los com as
normas e diretrizes do Partido.
Esse equívoco costuma ser irreversível, porque, pouco a pouco, os
ideais vão sendo substituídos pela veneração ao Partido adotado. Como
religiosos fiéis, votam incondicionalmente nos candidatos do Partido,
considerando a priori que eles sejam “os melhores”. Dedicam-se então, de corpo e alma,
à divulgação desses candidatos, certos de que bastará elegê-los e o Partido
conquistar o poder, para que os seus ideais de justiça social sejam realizados.
No decorrer da disputa política, envolvem-se emocionalmente a tal
ponto, que acabam achando normal que o fim (a vitória do Partido) justifique os
meios usados para colocá-lo no poder (mentiras, desvio de verbas para a
campanha etc.). Tudo será permitido e desculpável, desde que empurre o Partido
para a vitória nas urnas, pois ele carrega no bojo todos os seus sonhos
humanitários.
Em casos de fanatismo extremo, pessoas que antes eram de bem,
engajam-se na luta armada. É quando a guerrilha se torna a única maneira de
levar o Partido ao poder, não importando se à custa de muito sangue, pois a
essa altura, já se encontram plenamente convencidos de que “o fim justifica os
meios”. Terminam assim praticando tudo o que antes condenavam nos seus velhos
ideais humanitários e de amor aos semelhantes.
Os tiranos
Esse tipo de gente, mesmo que seja a minoria, infelizmente é quem
domina o mundo, pois luta por todos os meios pelo enriquecimento e pela
conquista de poder. Desprovidos de um mínimo de altruísmo, tais indivíduos vivem
com as mentes dominadas pelo egoísmo. Só pensam em si mesmos, são muito ladinos
e consideram que os justos, altruístas e humanistas, sejam uns “ingênuos”, que perderam o
foco do que seja a realidade da vida. Fazem questão de se mostrar “superiores”,
de ostentar riqueza, e por isso são essencialmente consumistas.
Empresários gananciosos, exploram como podem seus empregados,
dando-lhes, quando muito, o estritamente obrigatório por lei. Não vacilam em se
corromper, lucrando fortunas com subornos e outros negócios escusos.
Mas a grande concentração dos tiranos está na política. O motivo é
óbvio: é lá que encontram o “manjar” para sua fome de poder e de riqueza, pois
os políticos bem-sucedidos exercem grande poder sobre toda a população. Sempre
muito inteligentes, com brilhantes discursos demagógicos, às vezes chegam a
conquistar a simpatia dos justos, os verdadeiros idealistas, e os usam como
trampolim para galgar mais poder. Acabam se tornando grandes líderes
partidários, ministros e até presidentes.
Fazem negociatas com empresas igualmente corrompíveis, desviam
dinheiro público para suas contas em bancos estrangeiros, enriquecem filhos e
parentes próximos. Quando flagrados, contratam a peso de ouro competentes e tiranos advogados, espertíssimos em
encontrar pequenas brechas na lei para inocentá-los.
Tentam transformar seus crimes em “luta política”, e por incrível
que pareça, conseguem que seus seguidores – esses realmente ingênuos –, se
recusem a ver os fatos, ainda que comprovados, e continuem a considerá-los
grandes líderes, acreditando até o fim nos seus discursos mentirosos.
Conclusão
Em todos nós predomina um dos dois lados. Para detectar qual, é
preciso olhar a nós mesmos com honestidade, o que é impossível a um tirano, pois seu egoísmo não admite tal
honestidade.
Mas quem já superou o domínio do egoísmo, não vê mais o mundo
girar em volta de si mesmo. Embora cometa erros, como todos os mortais, admite
o erro cometido e logo empenha-se em repará-lo. Age priorizando o bem-estar do
próximo, e demonstra sempre solidariedade e gratidão.
Os justos jamais trocam seus ideais altruístas pelas diretrizes de algum
Partido político. Assim, conseguem enxergar os fatos com isenção, conscientes
da presença dos tiranos, sempre muito cativantes, mas desonestos e corruptos, que dominam
a política do país, com o único objetivo de levar vantagem e conquistar mais
poder.
Felizmente, os tiranos encontram nos justos uma inabalável resistência.
sendino.claudio@gmail.com